sábado, 29 de outubro de 2011

Bloco de Guimarães adianta propostas para Orçamento Municipal

No âmbito do exercício do Estatuto do Direito de Oposição, a Coordenadora Concelhia de Guimarães do Bloco de Esquerda reuniu ontem, dia 28 de Outubro de 2011, com o executivo camarário, na Câmara Municipal de Guimarães, para apresentar as suas propostas para o Orçamento autárquico para o ano de 2012:

O Bloco de Esquerda defende que o Plano e Orçamento municipal deve resultar dum processo em que os cidadãos participem e não apenas um mero instrumento das opções políticas de quem governa localmente.
Para o BE, o Plano e Orçamento deve ser uma aposta no investimento e na valorização das pessoas e do concelho.
Nesse sentido as propostas do Grupo Municipal assentam em quatro vectores:
- ambiente;
- vias de comunicação e transportes
- acção social
- orçamento participativo

AMBIENTE
A qualidade de vida é um direito dos cidadãos, no qual a Câmara se deve empenhar de forma comprometida e consequente. O bem-estar das populações está intrinsecamente ligado à qualidade ambiental, o que só é possível através da preservação dos recursos naturais e da minimização dos impactos da actividade humana.
O investimento no ambiente terá sempre um retorno a vários níveis: simultaneamente contribui para a melhoria da qualidade de vida dos munícipes, aumenta a atractividade do concelho e potencia o turismo.
O Bloco de Esquerda entende que neste campo, a Câmara deve:
- defender a água como bem público opondo-se ao caminho da privatização;
- aumentar o investimento para as obras de saneamento básico e rede de abastecimento de água, de forma a concluir a cobertura do concelho o mais rapidamente possível e criar mecanismos que possibilitem (apoio económico se for o caso) e obriguem a que toda a população já abrangida proceda à respectiva ligação ao saneamento;
- tomar medidas no sentido de acabar com os focos de poluição que afectam os vários cursos de água do concelho, e devolver os rios às populações, de forma a tornar possível a prática balnear e actividades lúdicas, promovendo desta forma a qualidade de vida dos habitantes e o turismo.

VIAS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTES
O Bloco de Esquerda entende que é importante melhorar a mobilidade e acessibilidade no concelho. Consideramos que a rede de transportes urbanos deve ser entendida como estruturante do desenvolvimento urbano, deve dar resposta às necessidades de acessibilidade e funcionar como promotor de equidade social.
Num momento de maior afluência à cidade, numa capital europeia da cultura que se quer participada por todos, é importante garantir uma rede de transportes abrangente, quer nos horários quer nos percursos, de forma a assegurar níveis de serviço adequados às necessidades das populações e que tornem este meio de transporte uma forma eficaz de deslocação.
Assim, e por forma a melhorar a mobilidade a Câmara deve em 2012:
- alargar os transportes urbanos a todo o concelho;
- garantir transporte nocturno para os principais aglomerados habitacionais.

ACÇÃO SOCIAL
A acção social é um eixo fulcral no qual a autarquia deve centrar os seus esforços.
Considerando as dificuldades crescentes que a região Norte atravessa, com especial incidência no Concelho de Guimarães, com o crescente aumento de desemprego,  agravamento das condições de vida impostas por uma economia incapaz de responder à situação e por políticas que empobrecem sistematicamente os cidadãos e as famílias, o Bloco de Esquerda considera que ao Município compete assumir opções que atenuem estas dificuldades.
Assim, tendo em conta o agravamento da situação social e económica de muitas famílias de Guimarães, e uma vez que tudo aponta para que ao longo de 2012 cresçam os casos de carência e de injustiça social, é nosso entender que a Câmara Municipal de Guimarães deve:

- proceder à redução ou isenção de taxas municipais para desempregados há mais de um ano, efectuando os devidos estudos   para pôr esta medida em prática;
- implementar  um passe social para munícipes que tenham rendimentos abaixo do salário mínimo;
- em conjunto com o agrupamento de escolas garantir o acesso  das crianças/estudantes a um conjunto de actividades durante o período de férias escolares,  garantindo  a ocupação de tempos livres e refeições;
- reforçar  a  verba para apoio das famílias carenciadas.

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Defendemos a institucionalização do Orçamento Participativo, como forma de aproximar os cidadãos do sistema político-institucional, em que a decisão política de intervenção no espaço, a definição de prioridades infra-estruturais e a aplicação dos fundos públicos, passe por um processo de debates temáticos e territoriais, onde devam participar todas as associações concelhias e todos as cidadãs e cidadãos interessados em contribuir com as suas opiniões para a resolução dos problemas de Guimarães. Consideramos necessário consolidar dinâmicas de desenvolvimento de uma cultura cívica, de práticas associativas e de construção de espaços de participação e decisão política.

Assim sendo, recomendamos ao Executivo camarário que encete as devidas e necessárias diligências para elaboração de um programa que defina uma estratégia para atingir, de forma progressiva, uma prática real de plano anual de actividades e orçamento participativos em Guimarães.

Guimarães, 28 de Outubro de 2012
O grupo municipal do Bloco de Esquerda

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

BE/Serpa entregou propostas para Orçamento Municipal - 2012

Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Serpa
Praça da República
7830 – 389 SERPA


Assunto: Plano de Actividades e Orçamento para 2012 – Data: 26/10/2011


Em resposta ao vosso ofício n.º 7509/2011, registamos com agrado que, pela primeira vez, a Câmara Municipal de Serpa dá cumprimento ao disposto no n.º 3 e no n.º 4 do Artigo 5.º e no n.º 2 do Artigo 4.º da Lei 27/98, de 26 de Maio – Estatuto do Direito de Oposição.

Nesta conformidade, remetemos em anexo os nossos contributos com vista à elaboração do Plano de Actividade e Orçamento do Município de Serpa para o ano de 2012.


Com os melhores cumprimentos,




Pelo Núcleo Concelhio do Bloco de Esquerda




___________________________

Miguel Rodrigues












CONTRIBUTOS PARA O PLANO DE ACTIVIDADES E ORÇAMENTO 2012


As propostas que seguidamente apresentamos para o Plano de Actividades e Orçamento de 2012 procuram, por um lado, ter em conta a nova realidade emergente do contexto socioeconómico peculiar que vivemos e, por outro, reafirmam princípios básicos que o Bloco de Esquerda tem vindo a defender com vista a uma democracia local mais participada, moderna e orientada para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos do concelho de Serpa.

 1 - PROPOSTAS COM VISTA A UMA MAIOR PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS DECISÕES DOS ÓRGÃOS AUTÁRQUICOS E PARA O REFORÇO DA CIDADANIA NA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO

A Câmara Municipal de Serpa já implementou, em anos anteriores, medidas para envolver a população do concelho na priorização de actividades a integrar nos planos e orçamentos do município. Estes processos foram meramente consultivos, mas tiveram boa adesão por parte dos munícipes e deveriam ter como sequência um orçamento participativo com uma componente deliberativa, a exemplo do que já ocorre em vários municípios portugueses. 

Estava agendado durante o ano 2011 a realização de mais um processo de orçamento participado, com repercussão em 2012 e que, pura e simplesmente, não se realizou.

O Bloco de Esquerda defende a implementação em 2012 de um processo de orçamento participativo que inclua a participação alargada e a decisão directa da população sobre uma parte do investimento (propomos 500 mil euros) a realizar pelo município em 2013.

Com vista a melhorar a informação e estimular a participação popular nas reuniões dos órgãos autárquicos, sugerimos que as sessões públicas da Câmara, da Assembleia Municipal e das Assembleias de Freguesia passem a ser divulgadas na Agenda Cultural e no site do município.

Considerando ainda que todos os cidadãos devem estar no centro das políticas para a sociedade de informação, propomos;

- A promoção de um programa municipal de recolha e redistribuição de material informático (junto das associações e escolas do concelho, por exemplo);

- O alargamento da informação e dos serviços municipais on-line, desde os orçamentos e planos de actividades anuais, às mais diversas contratações públicas e procedimentos concursais, o máximo possível de informação deverá estar on-line para consulta de todos os cidadãos.




2 – PROPOSTAS PARA O REFORÇO DA INTERVENÇÃO MUNICIPAL NO DOMÍNIO DA ACÇÃO SOCIAL E NO COMBATE Á POBREZA

 O Plano de Actividades de 2012 deve ter em conta a forte recessão que o país atravessa, fruto das medidas de austeridade fixadas pela troika e subscritas pelo PS, PSD e CDS, aproveitadas pelo actual governo para insistir em políticas que agravam a exploração e as desigualdades sociais, semeiam o desemprego e empobrecem cada vez mais pessoas.

Prevê-se que 2012 será o ano mais difícil que já se conheceu do ponto vista do aumento das situações de precariedade social e de pobreza.

Assim, sugerimos que a Câmara Municipal de Serpa, em parceria com o Conselho Local de Acção Social, proceda a um levantamento exaustivo das situações de pobreza em todas as freguesias do concelho.

Propomos a implementação das seguintes medidas de inserção / apoio social:

- Funcionamento de refeitórios sociais em colaboração com as IPSS’s do concelho;

- Implementação de um projecto de hortas comunitárias em Serpa e em todas as freguesias;

- Criação de um banco de medicamentos;

- Incremento do arrendamento a jovens das habitações recuperadas no centro histórico de Serpa.

- Cedência das  escolas desactivadas do 1º ciclo à associações ou IPSS’s, mediante contrato de comodato, para desenvolvimento de acções de solidariedade social e animação comunitária.



3 – PROPOSTA NA ÁREA DA EDUCAÇÃO

Cada vez mais as escolas são confrontadas com problemas graves de aprendizagem e comportamento dos alunos e os recursos existente para intervirem nestas situações são cada vez menores. Esta situação tem levado as escolas a procurarem na comunidade apoios que as ajudem a gerirem estes problemas preocupantes.

Os apoios provêm muitas vezes de projectos com duração limitada no tempo, por isso propomos para o próximo ano a criação de uma estrutura técnica permanente de apoio aos agrupamentos escolares do concelho (Pias, Vila Nova de S. Bento e Serpa), composta por psicólogo, assistente social e mediador/animador.


A equipa dedicar-se-ia à prevenção e intervenção nos mais diversos problemas vivenciados no contexto escolar, como por exemplo: projectos de leitura e escrita no 1.º Ciclo, sensibilização de professores para novas (velhas) técnicas de gestão de sala de aula, comunicação com pais, alunos e funcionários, valorização do papel dos funcionários na escola, gestão dos espaços de recreio actividades e intervenção dos funcionários, desmistificação do Bulling e da hiperactividade como défice de atenção, etc.



4 – PROPOSTAS NA ÁREA DA CULTURA

Sugerimos para o ano de 2012:

- O funcionamento de uma biblioteca  / ludoteca itinerante;
- A disponibilização on-line dos conteúdos da Biblioteca Municipal.
- promoção regular de workshops  de revitalização de ofícios tradicionais do Alentejo.



5 – PROPOSTAS PARA A PROMOÇÃO DA AGRICULTURA BIOLÓGICA

Retomando o Programa “Serpa, Comunidade Sustentável”, defendemos o agendamento para o ano de 2012 da concretização do Projecto 5 (Apoiar e Fomentar uma futura fileira de Agricultura Biológica e Orgânica), em particular o objectivo específico de “criação de uma Bolsa de Terras de produção Biológica / Gabinete Municipal de Apoio ao Agricultor.


Serpa, 26 de Outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Memorando da Comissão Nacional Autárquica do BE sobre o "Documento Verde"

A Comissão Nacional Autárquica, eleita na Mesa Nacional de 24 de Setembro, realizou a sua primeira reunião em 8 de Outubro de 2011, na sede nacional.
O ponto principal da Ordem de Trabalhos foi a análise e o posicionamento do Bloco face ao Documento Verde do governo sobre a Reforma da Administração Local que será justamente o tema das Jornadas Autárquicas 2001, marcadas para 26 de Novembro, em Almada.
Este debate envolve, antes de mais, um problema político da maior importância e é também uma questão sensível de táctica política, com reflexos óbvios na intervenção parlamentar, entre outras. Este Memorando pretende ser uma ferramenta para a necessária clarificação do BE sobre a Reforma Administrativa.

Nesta resenha de análise e propostas considerámos os quatro eixos do Documento Verde:

Eixo 1 – Sector Empresarial Local
Eixo 2 – Organização do Território
Eixo 3 – Gestão Municipal Intermunicipal e Financiamento
Eixo 4 – Democracia Local
Numa apreciação global às propostas do Documento Verde, a CN Autárquica é unânime em considerar que estamos perante o maior ataque de sempre à democracia local, nascida no 25 de Abril, face ao qual não há lugar para ingenuidades.
O acordo com a troika não passa de um pretexto para a aplicação dos velhos projectos do PS e PSD de alteração das leis eleitorais autárquicas, reforçando o bipartidarismo, a centralização do poder e a limitação drástica da autonomia do poder local, consagrada na Constituição.
Hoje, estes projectos procuram manipular os sentimentos populares face à crise: o combate ao despesismo e aos excessos das empresas municipais; a ideia mil vezes repetida de que “há políticos e órgãos a mais”, usada para restringir o pluralismo e diminuir o controlo democrático dos cidadãos e das oposições, facilitando a corrupção.
Significativamente, o lançamento do Documento Verde foi antecedido pela extinção da IGAL, de forma quase silenciosa, não fora a corajosa carta do Inspector-Geral prontamente censurada pelo ministro Miguel Relvas, pai e “alma negra” deste projecto governamental.
Na formulação de alternativas aos planos da direita e do PS, precisamos de combinar a clareza política na defesa e aprofundamento da democracia local com habilidade táctica para reverter os argumentos dos adversários e expor a natureza antidemocrática das suas propostas. De pouco serviria a postura de mera “defesa do que existe” que nos arredaria do debate político, sendo facilmente catalogada de imobilista e colada à posição do PCP.
Com estes considerandos, expomos resumidamente as opções que se nos colocam face a cada um dos quatro eixos em debate.
Eixo 1 – Sector Empresarial Local - SEL
Nada nos move contra o objectivo expresso no Documento Verde de redução significativa do actual número de entidades que compõem o SEL, por extinção e/ou fusão, acautelados que estejam o princípio da autonomia local e os direitos dos trabalhadores.
Aliás, a anterior Comissão Nacional Autárquica havia já elaborado um ante-projecto de Lei que não chegou a ser apresentado no parlamento. Defendia-se então a extinção das empresas que acumulassem prejuízos sucessivos e contas não consolidadas pelos municípios.

Apontava-se também para a responsabilização dos eleitos e das autarquias, em caso de incumprimento das disposições relativas à obrigatoriedade de extinção de empresas integradas no sector empresarial local.
Em relação às EM’s que subsistam, devemos defender o aumento de competências das Assembleias Municipais quanto ao SEL, designadamente na aprovação dos respectivos planos e contas, aumentando desta forma o controlo democrático sobre o seu funcionamento.
Ainda antes da apresentação do Documento Verde, o governo PSD/CDS apresentou a Proposta de Lei 11/XII que visa, entre outras matérias, suspender a criação de novas empresas do SEL. Mas o governo pretendeu reservar-se o direito de “furar” esta suspensão:
“Em situações excepcionais e devidamente fundamentadas, os membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e da administração local podem autorizar conjuntamente, por despacho publicado em 2.ª Série do Diário da República e sob proposta do organismo, serviço ou entidade que requer tal excepção, a criação de empresas ou a aquisição de participações em sociedades comerciais” – artigo 4.º, n.º 4 da Proposta de Lei.

Esta disposição é inaceitável, pois representa uma compressão à autonomia local e deixa ampla margem de discricionariedade ao Governo para exercer uma tutela arbitrária sobre as autarquias locais, servindo interesses clientelares. Além disso, tal preceito viola artigo 242.º, n.º 1 da Constituição da República Portuguesa.

Eixo 2 – Organização do Território

Em matéria de reorganização territorial, o Governo limita-se a tratar por agora das freguesias, remetendo os municípios para fusões voluntárias, a ser incentivadas, e adiando para o futuro o seu enquadramento legal. Esta solução não responde sequer ao objectivo enunciado, tanto mais que o grosso da despesa e das competências repousa nos municípios.
É sabido que as 4259 freguesias existentes representam apenas 0,13% da despesa no OE. Mas a nossa argumentação não deve ser economicista. Em muitas regiões do país, em especial no interior, depois do encerramento da escola, do posto médico, dos CTT e da GNR, a Junta de Freguesia resta como único elemento simbólico da presença do Estado – e também material, pois funciona como balcão de alguns serviços extintos, nomeadamente na área social.
Não recusando por princípio uma reorganização do mapa territorial, exigimos coerência e o respeito de princípios democráticos, nomeadamente:
- Os critérios demográficos e de área geográfica mínima para a existência de freguesias devem considerar variáveis como a orografia, a rede de transportes públicos e a concentração ou dispersão do povoamento, reduzindo os critérios neste último caso;

- A extinção, fusão ou agregação voluntária de freguesias /municípios exigirá parecer positivo do respectivo órgão deliberativo – Assembleia de Freguesia ou Municipal, confirmado se necessário por referendo local. Para viabilizar esta possibilidade, deverá ser regulamentada a convocação de referendo local por iniciativa de cidadãos.

Eixo 3 – Gestão Municipal Intermunicipal e Financiamento
Neste eixo tem particular relevância o papel que o governo pretende atribuir às associações de municípios de direito público, quer se trate de Comunidades Intermunicipais, quer das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. O objectivo, segundo o Documento Verde, é valorizar estas formas de associativismo autárquico, designadamente estabelecendo-lhes um quadro alargado de atribuições e competências. Chega-se mesmo a defender o aprofundamento da legitimidade e do controlo democrático das Comunidades Intermunicipais e das Áreas Metropolitanas” – o que teria como corolário lógico a regionalização…
Não nos iludamos, porém: para o governo, o aprofundamento da legitimidade e do controlo democrático não passa pela eleição directa dos órgãos que vão gerir estas comunidades. Estes continuarão a ser um mero fórum intermunicipal, onde cada autarca pensa sobretudo no seu quintal e ninguém está legitimado e responsabilizado para assumir uma visão integradora do desenvolvimento regional.
Miguel Relvas retoma agora o seu projecto: tornar as CIM e as Áreas Metropolitanas inócuas, mantendo o controlo governamental das CCDR’s que substituem com vantagem os governos civis. Quando era Secretário de Estado da Administração Local de Durão Barroso, afirmou que as CIM representavam “o enterro definitivo da regionalização”. Sobre o caos administrativo, reinaria o centralismo. O objectivo mantém-se, a linguagem parece hoje mais refinada.
No combate à estratégia centralizadora e na antidemocrática da direita, com a cumplicidade do PS, temos a noção clara que a onda populista contra a regionalização se reforçou, até com o “buraco da Madeira”. Esta reforma não está na ordem do dia, mas não devemos abandoná-la como peça essencial de uma reforma administrativa coerente e imperativo constitucional.
A demagogia sobre o aprofundamento da legitimidade e do controlo democrático” pode abrir algumas brechas a explorar, em particular nas Áreas Metropolitanas que há muito anseiam pela sua eleição directa. Essa possibilidade, ainda que remota no actual quadro político actual, criaria um precedente incontornável para o avanço da regionalização.

Eixo 4 – Democracia Local
Este é a questão mais controversa, face à qual necessitamos de orientações políticas claras.
Temos claro que o acordo PS-PSD para a alteração da lei eleitoral autárquica não representa nenhum tipo de aprofundamento da democracia local, ao contrário do que título deste eixo sugere. O objectivo é o reforço do bipartidarismo e a imposição de executivos monocolores, reduzindo a drasticamente a proporcionalidade e o número de eleitos.
As motivações são políticas e não meramente economicistas: a “poupança” com as senhas de presença de vereadores sem pelouro e nas reuniões das assembleias municipais é irrelevante. É o mesmo tipo de argumentação utilizada para defender a redução do número de deputados. E a alteração da lei eleitoral autárquica poderá servir de balão de ensaio para o parlamento.
A alteração do sistema de Governo Local é a pedra de toque da proposta PS-PSD, propondo-se a designação indirecta do órgão executivo dos municípios, por indicação do seu Presidente, o primeiro candidato da lista mais votada para a Assembleia Municipal.
Esta proposta rompe com a tradição colegial portuguesa pós 25 de Abril e concentra poderes excessivos na figura do Presidente de Câmara Municipal. Reforça o presidencialismo e estende a fulanização das eleições autárquicas à Assembleia Municipal, até hoje o órgão mais político e plural do município, a quem compete a fiscalização do executivo camarário.
O afastamento dos vereadores da oposição, normalmente sem pelouro, fomentará ainda mais opacidade do processo decisório, já que o órgão deliberativo reúne espaçadamente e os seus membros não têm tempo nem condições profissionais para fiscalizar o executivo.
Assim, não passam de votos piedosos (e hipócritas) as passagens do Documento Verde que pregam “ o reforço dos poderes de fiscalização da Assembleia Municipal sobre o Executivo” e ponderam “um reajustamento das actuais competências das Instituições Autárquicas Municipais, acentuando a importância da Assembleia Municipal enquanto órgão deliberativo”.
No entanto, o Documento é omisso quanto ao carácter electivo dos membros da Câmara Municipal: “Os restantes membros do Órgão Executivo são escolhidos pelo Presidente de entre os membros eleitos para a Assembleia Municipal”. Não prevê, por exemplo a possibilidade da sua demissão pela Assembleia Municipal.
Chegados a este ponto, temos de optar entre duas tácticas possíveis quanto às propostas de lei eleitoral autárquica.
1 – Ou defendemos a manutenção do actual sistema, com eleição directa e proporcional dos membros da Câmara Municipal, conservando o carácter plural e colegial do executivo.
Esta posição não nos inibe de apresentar propostas de reforço efectivo dos poderes de fiscalização e de iniciativa legislativa da Assembleia Municipal, nomeadamente ao nível das consequências das moções de censura ao executivo e do chumbo sucessivo das propostas de plano de actividades e orçamento que poderiam, no limite, conduzir à dissolução da Câmara e da própria Assembleia e à realização de eleições autárquicas antecipadas.
A nível legislativo, poderiam ser tomadas múltiplas iniciativas que nos escusamos de detalhar. No entanto, manter-se-ia o essencial do actual sistema e o seu cerne: a dupla legitimidade democrática da Câmara e da Assembleia Municipal, por vezes conflituante e cuja destrinça não é facilmente dirimida por via legislativa, pois é um problema essencialmente político.
Esta táctica, repetimos, mantém o essencial do sistema autárquico vigente desde há 35 anos e confunde-se com a do PCP, embora nos possamos distinguir ao nível do reforço dos poderes das Assembleias Municipais. Tem o sério risco de nos arredar do debate político, catalogados de “conservadores” e com pouca margem de manobra para a discussão na especialidade.
2 – Ou “damos a volta” à proposta de eleição de um único órgão municipal que, repetimos, visa o reforço do presidencialismo, defendendo a parlamentarização radical da vida municipal:
- A Câmara será eleita no seio da Assembleia Municipal e não terá obrigatoriamente como Presidente o primeiro candidato da lista mais votada, mas sim quem apresentar uma lista que reúna a maioria dos votos no seio do órgão deliberativo – para quem gosta de usar “paralelos” com a Assembleia da República, eis uma possibilidade interessante, quando o líder do partido mais votado não consegue formar uma coligação maioritária.
- Esta alteração fere de morte o presidencialismo: não só desaparece a dupla legitimidade democrática da Câmara e da Assembleia como, obviamente, a Câmara poderá cair por efeito de moções de censura ou da rejeição do plano e orçamento. E sem necessidade de eleições antecipadas enquanto não se esgotarem os arranjos políticos na Assembleia Municipal.
- Fica afastado o fantasma dos executivos monocolores (em muitos casos serão de coligação), a menos que haja maioria absoluta; mas esta seria uma decorrência da própria democracia.
- Num sistema de parlamentarismo municipal não há lugar para os Presidentes de Junta na Assembleia Municipal. Esta presença fazia algum sentido no sistema actual, já que a maior parte do orçamento das freguesias é constituído através de protocolos com os municípios e a AM é o fórum onde estas podiam fazer valer os seus interesses. Mas tem um lado perverso: assistimos a Presidentes de Junta ´”de chapéu na mão” perante o Presidente da Câmara ou a favorecimentos espúrios, a troco de votos que distorcem a proporcionalidade do voto popular. A saída dos Presidentes de Junta da AM seria compensada pelo aumento do número de eleitos directos – de 3 para 5 vezes o número de membros do Executivo, como aconteceu até 1984.
- Para as Freguesias, a solução é o aumento radical dos míseros 0,13% que representam na despesa, tornando-as verdadeiras autarquias, sem dependerem dos orçamentos municipais. Além da necessária descentralização de competências e meios, as parcas receitas próprias das freguesias impõem que o essencial do seu financiamento venha do OE.
- A propósito, esta alteração do sistema eleitoral deve aplicar-se também às freguesias. Grande parte dos impasses na formação das Juntas deriva de, actualmente, só o cabeça da lista mais votada poder apresentar propostas de executivos, por vezes chumbados sucessivamente.
Por fim, não nos iludamos: por melhores que sejam as nossas propostas, o rolo compressor dos partidos da troika tentará impor a sua vontade no parlamento. Mas temos ir à luta e temos de contar no debate público que durará, no mínimo, até ao segundo trimestre de 2012.

O PROBLEMA ESTÁ NAS FREGUESIAS?

O primeiro-ministro apresentou, na semana passada, um estudo para a reforma da administração local que recebeu de imediato elogios do PS. Já não é de estranhar...
OPINIAO | 3 OUTUBRO, 2011 - 10:16 | POR PEDRO SOARES
Discordamos da orientação geral desse documento, mas não está em causa a necessidade de debate e de alterações profundas na organização e na administração do território. São necessárias mudanças, tanto no território como na legislação relativa às autarquias. Contudo, perante a importância e magnitude da tarefa, faz algum sentido colocar a extinção/fusão de freguesias no centro dessa reforma?

As freguesias são a autarquia com menor peso em termos orçamentais e da despesa (0,13% do OE – 6 cêntimos por cidadão/ano), apesar de serem 4259 em todo o país. Desempenham um importante papel de proximidade com as populações, sobretudo nas regiões de baixa densidade demográfica e em muitas periferias urbanas. Frequentemente, depois da saída do posto de saúde, da escola e dos correios, o único "serviço público" que resta é o prestado pela junta de freguesia.

Há quem diga que se tem de começar por algum lado, é verdade. Contudo, reorganizar o território sem mexer na administração desconcentrada e na municipal, onde estão instalados milhares de quadros dos partidos do bloco central, não é sério e faz perceber os reais objectivos desta reforma.

O PSD está obrigado a mostrar trabalho à troika, mas quer bulir apenas com o "elo mais fraco" - as freguesias. Ao nível municipal, o documento do governo prevê que qualquer alteração na configuração dos concelhos é "voluntária", são os vereadores que não têm pelouro nem vencimento (maioritariamente os da oposição) que levam o maior desbaste e os poderes dos presidentes de câmara até saem reforçados.

A lei eleitoral será mudada para que os executivos passem a ser "homogéneos" e escolhidos discricionariamente pelos respectivos presidentes. As oposições serão residuais, perdem capacidade efectiva de fiscalização e as câmaras ficam em verdadeira "roda livre", sem qualquer possibilidade de travão face a todo o tipo de desmandos e habilidades.
Porém, a concentração de poderes não fica por aqui. As Comunidades Intermunicipais (CIM) que pouca gente conhece ou sabe para que servem, compostas por presidentes de câmara de vários municípios agregados, reforçam-se com novas competências e
atribuições, mas não se reforçam em termos democráticos, permanecendo sem órgãos directamente eleitos. Passam a ser uma espécie de novos governos civis e constituem um retorno à ideia das fracassadas leis 10 e 11 de 2003, do então secretário de Estado Miguel Relvas (governo Durão Barroso).

Em vez de democracia e de participação local, o PSD quer excluir a regionalização democrática e promover o caciquismo autoritário. Não se pode acreditar que seja uma reforma corajosa ou para aumentar a eficiência da administração local, nem para acabar com o despesismo e o compadrio. Pelo contrário, com mais caciquismo só se poderá esperar maior opacidade autárquica e mais corrupção.

O "Documento Verde da Reforma da Administração Local" traduz a aliança entre PSD e PS para matar a regionalização e diminuir a democracia local. O caminho tem de ser o inverso: mais descentralização, mais democracia e mais participação, para se conseguirem melhores equilíbrios territoriais e melhores serviços públicos. O debate está aí e as propostas alternativas surgirão. Porém, este caminho iniciado pelo governo PSD/CDS não é uma reforma, mas um verdadeiro retrocesso.